TEORIA DOS ATOS DE FALA

TEORIA DOS ATOS DE FALA

Para Austin (1962), os atos de fala são enunciações caracterizadas pela presença de uma “força ilocucionária” capaz de determinar como a mensagem (o ato em si) deve ser entendida pelo interlocutor: um pedido, um mandato, uma possibilidade etc. De tal modo, o ato de fala só será tido como bem-sucedido se o interlocutor entender a intenção inerente à sua efetivação. Subjacente a essa caracterização dos atos de fala está o fato de que as mesmas palavras ditas por um mesmo falante podem suscitar diferentes significados, conforme o contexto de realização.Em outras palavras, pode-se dizer que “uma das principais idéias que emergem das reflexões desta teoria é a de que são múltiplas as formas de ação que podem ser efetivadas por meio da linguagem” MÓIA E PERES (1995). Os atos de fala são divididos em três, sendo eles: o ato locucionário, o ato ilocucionário e o ato perlocucionário.

Partindo do conceito de enunciado (utterances) como expressões com unidades linguísticas ou palavras, temos as proposições, as quais são declarações que podem ser verdadeiras ou falsas, pois se referem a outras coisas. A proposição ocupou o centro das teorias da comunicação, epistemologia, linguística porque desde Aristóteles houve a ideia de que essas palavras em uma proposição correspondiam à verdade logicamente demonstrável. Depois, o giro linguístico demonstrou que as palavras são mais que isso, são limitadas para representar a realidade e um pobre meio para operações lógicas dada suas ambiguidades e imprecisões.

ATO LOCUCIONÁRIO: 

Corresponde ao ato de pronunciar um enunciado.

EXEMPLO:

Essa imagem é uma versão humorística da famosa pintura A Última Ceia, de Leonardo da Vinci, adaptada para um contexto de reuniões virtuais, como as que se tornaram comuns durante a pandemia da COVID-19. Nela, Jesus aparece sozinho na mesa, enquanto os discípulos estão em pequenos quadros na parte superior, simulando uma chamada de vídeo. A fala atribuída a Jesus – "Estão todos com som..?"  faz referência a um problema comum em videoconferências, onde os participantes frequentemente precisam verificar se seus microfones estão ativados ou funcionando corretamente.

Agora, analisando o ato locucionário da imagem:
O ato locucionário refere-se ao enunciado em si, ou seja, às palavras proferidas. Neste caso, o enunciado "Estão todos com som..?" é uma pergunta literal sobre a condição do áudio dos participantes em uma reunião virtual.

ATO ILOCUCIONÁRIO:

Corresponde ao ato que o locutor realiza quando pronuncia um enunciado em certas condições comunicativas e com certas intenções, tais como ordenar, avisar, criticar, perguntar, convidar, ameaçar, etc. Assim, num ato ilocutório, a intenção comunicativa de execução vem associada ao significado de determinado enunciado.

EXEMPLO:

Os atos ilocucionários dizem respeito à intenção comunicativa do falante ao proferir um enunciado.

No caso do Capitão Haddock, seu enunciado tem um ato ilocucionário expressivo, pois expressa um estado emocional de cansaço e frustração. Ele não apenas informa algo, mas revela sua exaustão e a percepção subjetiva de que a semana já foi difícil, mesmo ainda estando na metade.

Já a resposta de Tintim tem um ato ilocucionário assertivo, pois ele apenas informa um fato objetivo: ainda é quarta-feira, contrapondo-se à sensação subjetiva do Capitão. O humor do meme surge justamente da discrepância entre a percepção emocional do Capitão e o fato objetivo apontado por Tintim.

ATO PERLOCUCIONÁRIO:

Corresponde aos efeitos que um dado ato ilocutório produz no alocutário. Verbos como convencer, persuadir ou assustar ocorrem neste tipo de atos de fala, pois informam-nos do efeito causado no alocutário.

EXEMPLO: 

O ato perlocucionário refere-se ao efeito que um enunciado causa no ouvinte, seja emocional, psicológico ou comportamental. No terceiro quadro, vemos o efeito concreto dessa fala na criança: ela se sente inspirada a agir e pega uma muda para plantar.

REFERÊNCIAS

AUSTIN, John L. How to do Things with words. New York: Oxford University Press, 1965.

SEARLE, John R. Expression and meaning. Cambridge: Cambridge University Press, 1979.